Pela primeira vez no ranking de vendas de não medicamentos em drogarias, fabricantes tradicionais dividem espaço com redes do varejo farmacêutico. A explicação está na marca própria, segmento que assumiu protagonismo na cesta de consumo dos brasileiros durante a pandemia.
Segundo a Close-Up International, a comercialização de artigos de higiene pessoal, beleza e outros produtos nas farmácias totalizou R$ 32,99 bilhões em 2021. O canal farma ainda responde por cerca de 2% desse montante, mas quatro empresas já movimentam três dígitos com essa categoria – Raia Drogasil, Farmácias Pague Menos, Grupo DPSP e Panvel. E todas estão no top 30 em volume de unidades.
A Raia Drogasil alcança a 15ª colocação em faturamento e figura no 10º lugar em volume de unidades – cerca de 62,4 milhões de itens. O crescimento em relação a 2020 foi de 47%. A rede iniciou a incursão em marcas próprias no ano de 2011 e hoje reúne mais de 400 produtos, com destaque para a linha vegana Needs.
“O comportamento da marca própria no e-commerce ganhou muitos pontos no nosso share. A Covid-19 nos forçou a observar as necessidades imediatas do consumidor e a focar em lançamentos que atendam a esses objetivos, tais como sabonetes líquidos e máscaras de tecido, que conseguimos colocar no mercado em apenas 20 dias nos primeiros meses de pandemia”, comenta Luciana Tortorelli Mioto, diretora de e-commerce e marketplace.
Na Pague Menos, o histórico nessa categoria é ainda mais longo e remonta a 2008. São mais de mil itens agrupados em nove marcas. Um dos mais recentes lançamentos é a linha ECO. Veganos e cruelty-free, produtos como xampus, condicionadores sólidos e escova dental são disponibilizados com embalagens biodegradáveis.
Segundo o balanço da rede, a área teve um crescimento superior a 22% no terceiro trimestre e a participação sobre as vendas no autosserviço atingiu 13,7%. “Inclusive, estamos fazendo um trabalho de auditoria e requalificação de todos os fornecedores, para garantir a qualidade e aderência aos valores da empresa, em conformidade com nossa agenda ESG recém-lançada”, explica Rafael Rossatto, diretor de marcas próprias.
Influência direta da pandemia
Para Neide Montesano, presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização (Abmapro), a pandemia exerceu forte influência sobre essa atividade. “Os produtos próprios das varejistas surgiram como alternativa de consumo para famílias obrigadas a cortar gastos nesse período”, analisa.
Na sua visão, a categoria também contribuiu para minimizar ocorrências de ruptura dos estoques nas gôndolas, quando a indústria começou a conviver com barreiras causadas pelo encarecimento dos insumos e pelos entraves para importação.
No radar das farmácias regionais
O varejo farmacêutico regional também vem apostando fichas no segmento. É o caso da Assifarma, que representa 12 empresas em sete estados – Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo – e no Distrito Federal. A entidade atua como um autêntico hub de marcas próprias, por meio da gestora independente Intercron.
O grupo reúne atualmente 65 produtos e mais de 1 mil SKUs, com presença em 870 PDVs. “Essas linhas já correspondem a 7,88% do faturamento total das redes associadas. Com esse ecossistema que constituímos, garantimos que as farmácias regionais tenham volume e escala para crescer com marcas próprias”, pontua Giovanna Dimitrov, consultora da Assifarma. Só no ano passado, a associação viabilizou 185 lançamentos. Ela já aparece em nono lugar na venda de fraldas no varejo farmacêutico e em 14º na comercialização de vitaminas.
Já a Rede d1000 testemunhou um salto de R$ 3,3 milhões para R$ 40,1 milhões em cinco anos. A marca própria, inclusive, passou a ser um departamento exclusivo na companhia e totaliza 8,7% da receita do autosserviço nas mais de 200 lojas no Rio de Janeiro e no Centro-Oeste. Os carros-chefes são as linhas de vitaminas, lenços umedecidos infantis, absorventes, nutricosméticos e fraldas para adultos.
“No varejo, temos liberdade de ir e vir para qualquer categoria. Para isso, necessitamos interpretar as informações que consultorias nos proporcionam, mas com o cuidado de fazer avaliações por região e baseadas na performance das grandes redes”, explica o gerente de marcas exclusivas Thiago Almeida.